Tive de escrever um obituário uma vez. Naquela única vez, me apeguei ao que tinha lido no Livro das vidas, organizado por Matinas Suzuki Jr., para conseguir expressar em palavras a vida da pessoa que havia falecido (era um político importante na comunidade, mas não de Santo Ângelo). A obra que me apoiou nessa escrita é um compilado de textos de obituários do New York Times. Não falam da tristeza que a morte traz, mas da trajetória de vidas comuns, que ganham outra dimensão quando descritas pelo olhar curioso dos repórteres.
O que me chama a atenção nessa obra é a técnica dos jornalistas que escrevem os textos. Eles retratam com detalhes como uma situação ocorreu. Isso se vê bastante na literatura, o detalhamento do local, dos gestos, das expressões faciais…enfim. No jornalismo factual, aquele do dia a dia, é difícil conseguir fazer isso. Normalmente em pautas especiais o repórter tem possibilidade de empregar essas técnicas.
Esse tipo de escrita, de Jornalismo Literário, é característico em livro reportagem – que narra de forma mais extensa uma reportagem que não seria suportada nas mídias tradicionais. O que acontece, na realidade, é que o jornalista segue a sua essência de informar, mas tem um ganho de vocabulário, com uma estrutura narrativa mais aprofundada.
Sugestões
A sangue frio de Truman Capote
Truman Capote conta a história da morte de toda a família Clutter, em Holcomb, Kansas, e dos autores da chacina. Capote decidiu escrever sobre o assunto ao ler no jornal a notícia do assassinato da família, em 1959. Além de narrar o extermínio do fazendeiro Herbert Clutter, de sua esposa Bonnie e dos filhos Nancy e Kenyon, o livro reconstitui a trajetória dos assassinos.
Os Sertões de Euclides da Cunha
Relato minucioso sobre a Guerra de Canudos, ocorrida entre 1896 e 1897. É considerado o primeiro livro-reportagem brasileiro. Uma das obras mais importantes para se compreender o Brasil.