Certa feita, um professor universitário novato, na casa dos vinte e três anos recém completos, ouviu de um sujeito em uma mesa de bar:
– O que você acha da frase: “quem sabe, faz; quem não sabe, ensina”?
O professor coçou o queixo, olhou para baixo e procurou algum objeto pontiagudo para eviscerar o cidadão. Ao fim de dois segundos que quase selaram seu destino ao xilindró, o professor respondeu, feição fechada e semblante de Hannibal:
– Acho que quem pensa, não fala essas porcarias (e quem não pensa, fala).
O professor não recorda a reação do indivíduo, mas intui que certamente perdeu a simpatia de alguém naquela oportunidade.
Algum tempo depois, ao pagar a conta de uma pastelaria, um atendente com cara de McDonald’s questionou:
– Ah! Então você é professor! Mas assim: você trabalha ou só dá aula?
O professor lembrou daquele ímpeto assassino passado. Em um momento contabilizado por qualquer piscar de olhos, passou em sua mente um arrazoado imenso, repleto e recheado de argumentos e xingamentos para todo o lado. Contudo, sempre tranquilo, afetado certamente pelo excesso de suco de maracujá que lhe tomava as entranhas, apenas sorriu, pagou o que tinha de pagar e vazou embora.
Hoje, passados mais ou menos sete anos daquele primeiro episódio, o professor acredita que não mais chegaram aos seus ouvidos besteiras do gênero. À parte isso, porém, tem uma certeza que a cada dia se torna mais clara em sua mente: a imbecilidade dos seres humanos apenas avança em progressão geométrica com o transcorrer das décadas.
Em termos de pensamento crítico e senso da realidade, o professor conclui, inspirado por um viral que circulou pela internet na última semana, que são pouquíssimas as pessoas que sabem agregar valor ao camarote – e nesse momento, fecha mais um comentário aleatório sobre a vida, o Universo e tudo mais.
Star Wars
Você questiona os alunos:
– Pessoal, conforme já vimos, o conceito clássico de pessoa jurídica é qual?
O silêncio toma conta da sala.
Você quer que surja a seguinte resposta: “uma ficção de direitos e deveres”. Mas apenas as lâmpadas fluorescentes se mostram presentes com seus zumbidos elétricos.
Você decide incitar o raciocínio:
– A série de filmes Star Wars é classificada de que modo?
Surgem vozes:
– Ficção científica! Ficção científica!
Você emenda:
– Então a pessoa jurídica detém qual significado, levando em conta a palavra “ficção”?
Após breve mudez, certo aluno responde em um canto da sala:
– É uma ficção científica, professor!
A turma cai na gargalhada.
P.S.1: As duas histórias são baseadas em fatos reais que ocorreram comigo. Nada de invenção – embora, talvez, eu tenha acrescido alguma coisa aqui e ali.
P.S.2: Por essas e outras que nunca conseguirei elencar totalmente, jamais deixarei de ser professor.