Meio-dia e meia! De repente faltou luz! Como sói acontecer nesses casos, deveria voltar em poucos minutos. O dia era de sol, muito longe de raios e trovões e chuva e vento que, às vezes, provocam falta de energia elétrica por longo tempo.
Meio-dia e meia, faltou luz, só isso! Coisinha de nada! Só que eram duas horas, e nada de voltar a luz. Resolvi examinar as chaves gerais da casa, internas e externas. Nada! Tudo certo. Fui, então, à rua e, diga-se, em frente a minha casa há um poste com um transformador barulhento. Logo percebi que lá estava o problema. Uma das três chaves, ou fusíveis, sei lá, estava caída, interrompendo a energia. Que fazer? Telefonar para a CEEE.
Mas não existe mais CEEE. O nome é outro, e até descobrir o telefone da nova Companhia foi um parto. Mas um partinho, sem dor, digamos!
Parto mesmo foi a minha conversa com uma voz feminina que atendeu o chamado, cujo conteúdo tento reproduzir aqui.
– Erregeé!
– Por favor, com quem eu falo para reclamar de falta de luz?
– Aqui mesmo, senhor!
– Aqui é da rua Caneca, número 465. Estou sem luz.
– Diga seu nome e endereço. É de Santo Ângelo?
– Sim, sou Pedro Pereira, rua Caneca, 465.
– E qual é o seu problema, meu senhor?
– Estou sem luz na casa. Mas posso adiantar que o problema está no poste, em frente a minha casa, onde há um transformador com uma chave caída.
– Mas na casa, meu senhor?
– Estou sem luz em consequência da chave caída no transformador em frente.
– Diga o seu nome e endereço.
– Já disse, mas repito: Pedro Pereira, rua Caneca, 465.
– Telefone, meu senhor.
– 312-0000
– Qual é o problema?
– Estou sem luz, já disse!
– Meu senhor, e o bairro?
– Sapucaia.
– Rua, meu senhor!
– Está bem, minha senhora! Rua Caneca, 465, bairro Sapucaia.
– Seu nome?
– Outra vez? Pedro Pereira.
– Mas qual é o problema, meu senhor?
– Estou sem luz. Mas o problema não é na minha casa, mas na rua, no transformador. Tem uma chave caída, eu vi.
– Na sua casa não tem nada, meu senhor?
– Na minha casa tem, sim, minha senhora! Tem um cachorro que não para de latir, minhas contas para pagar, minha vó que é caduca, minha sogra que aporrinha a vida, a empregada que não veio e eu estou louco para ir aos pés. Além disso, estou sem luz.
Risadinha do outro lado, ranger de dentes do meu lado.
– Está bem, meu senhor! Vou passar para o pessoal encarregado.
Milagrosamente, dez minutos depois, a moça desgraçadamente chata deu a luz.